“Tempo Bruto” resgata memória visual da cena artística pernambucana
Com apoio da Lei Paulo Gustavo, projeto lança exposição inédita com imagens históricas captadas por Fernando Peres; abertura acontece no próximo sábado (12), na Galeria Maumau
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O artista visual Fernando Peres nunca largou as câmeras. Desde a infância, incentivado pelo pai fotógrafo, Peres aprendeu a olhar o mundo através das lentes, primeiro com fotos, depois com vídeo. Agora, décadas depois, centenas de fitas gravadas entre o fim dos anos 1990 e o início dos anos 2000 ganham nova vida graças ao projeto “Tempo Bruto”, que será lançado oficialmente neste sábado, dia 12 de abril, a partir das 19h, na Galeria Maumau, no bairro do Espinheiro, Recife. A entrada é gratuita.
O projeto, contemplado pelo Edital de Ações Criativas para o Audiovisual – Memória, Preservação e Digitalização de Obras (Lei Paulo Gustavo), do Governo do Estado de Pernambuco, foi idealizado e tem coordenação geral de Irma Brown.
Mais de 350 fitas magnéticas (VHS, Super-VHS, Hi-8 e Mini-DV) foram digitalizadas em um minucioso processo técnico conduzido pelo restaurador audiovisual Tuka Maia (Deivison Antônio dos Santos). O resultado é um acervo audiovisual composto por imagens que documentam eventos culturais emblemáticos, performances artísticas, festas, espaços culturais e personagens que marcaram uma geração.
“Eu sempre tive muito contato com câmera desde criança, meu pai é fotógrafo até hoje. Mas crucial mesmo foi na época do grupo Molusco Lama e da produtora Telefone Colorido, no final dos anos 1990. Aí eu passei a meio que filmar tudo, como eu tenho também o hábito de fotografar muita coisa diferente e tal, dentro de alguns assuntos que se repetem, né? Salto alto, um inseto, uma farra, uma exposição, os assuntos meio que se repetem”, conta o artista que já fez inúmeras exposições coletivas e individuais em várias cidades do País.
Chegava a filmar por horas seguidas. “Mas foi aí que eu tive, tipo, também uma estafa de filmar, um abuso. Parei completamente em 2010. E aí, estou voltando com esse trabalho, que está sendo muito bom de fazer”.
O artista explica que a descoberta do conteúdo das fitas surpreendeu até ele próprio. “Não me lembrava de muita coisa que encontrei nessas gravações. Isso tudo é muito bom, porque são imagens de muitas épocas diferentes, pessoas presentes hoje e pessoas que já se foram, até crianças naquela época que hoje têm seus 40 anos. Está sendo um resgate muito interessante”.
A importância histórica desse acervo vai além do registro pessoal. Para Irma Brown, idealizadora e coordenadora do projeto, trata-se de um legado coletivo: “Fernando era como um cronista visual da cidade, antes das redes sociais. Ele já fazia algo parecido com o que hoje associamos a criadores de conteúdo, mas com um olhar artístico e autoral muito forte. São registros espontâneos, quase fotografias em movimento, que revelam a alma de uma época que poderia ter sido esquecida”, diz Irma que também é artista e que fundou, com Fernando, a Menor Casa de Olinda e a Galeria Maumau.
O acervo inclui eventos importantes da cena cultural independente pernambucana, como SPA das Artes, Festival de Inverno de Garanhuns, exposições no MAC de Olinda e no Museu Murillo La Greca, além de performances em espaços como a Menor Casa de Olinda e o Ateliê Submarino. Fernando também registrou bastidores e shows de bandas e artistas como Textículos de Mary, Backing Ballcats Barbis Vocal’s, Mundo Livre S.A., Cordel do Fogo Encantado e Jards Macalé. Também não faltam registros da boemia, dos bares e de figuras da noite do Recife e Olinda. Outro destaque vai para as gravações dos programas e comerciais da TV da época.
Para Irma, além do aspecto artístico, há um componente afetivo e histórico fundamental: “Resgatar esse material é preservar parte da memória da cidade, de seus artistas, seus espaços e suas transformações. O acervo mostra também a força dessa cena cultural antes da era digital, numa época em que quase ninguém estava preocupado em documentar sistematicamente”.
Além da exposição com as projeções audiovisuais e obras de Fernando Peres, o evento de sábado contará com gastronomia e bebidas especiais: delícias da Dhuzati, cervejas artesanais da Turvalina e caipirinhas preparadas por Mauricio Castro e equipe. A exposição também poderá ser conferida ao longo do mês de abril com agendamento pelo instagram da Galeria Maumau.
Serviço: