Um Miró da Muribeca mais existencial em “aDeus”
Poeta lança seu novo livro de inéditas nesta quinta (6), no Bar Teatro Mamulengo, no Recife
Postado em: Literatura
por Leonardo Vila Nova
“Será que Deus tem dúvidas?”. Certamente, ele não duvidou nem hesitou em atender a súplica delirante do poeta Miró da Muribeca e deixá-lo vivo para chegar a mais um capítulo de sua obra: aDeus, o seu novo livro de inéditas, que será lançado nesta quinta (6). A data é emblemática… neste dia, Miró completa 55 anos de idade e 1 mês e meio de renascimento, com fôlego renovado, limpo, e a sagacidade de sempre, que lhe rende, a todo instante, versos afiados na ponta da língua… esses que reverberam em seus gestos largos. O lançamento de aDeus será às 19h, no bar Teatro Bar Mamulengo (Bairro do Recife), no Recife. Lá, serão vendidos os únicos 150 exemplares desta primeira tiragem do livro, editado pelo selo Mariposa Cartonera.
aDeus é o livro que salvou Miró, segundo ele próprio. Aterrorizado pelo profundo poço (quase sem fundo) do alcoolismo, num preocupante quadro de debilidade física, Miró sentiu sua vida por um fio. Mergulhado em solidão, questionou: “Há Deus?”, e sentiu que aquela poderia ser a hora do seu “adeus”. Neste delírio, o poeta, agarrado com unhas e dentes à sua arte, teve o insight e suplicou: “Deus, não me deixe ir, não. Me dá essa força!”, no que fora atendido. Miró, então, contrariou a “bolsa de aposta dos imbecis”, como ele diz. “Corria uma conversa por aí, no ar, que eu seria o próximo poeta a morrer”, revela. No entanto, reerguido, 13kg mais forte, dono de si e feliz pela verdade dos seus versos, fora atrás de publicar sua redenção, o seu atestado de renascimento. Começavam, então, a se manifestar os primeiros suspiros de aDeus.
A ideia inicial era publicar o novo trabalho por uma editora consagrada, reunindo cerca de 100 poemas. Até que essa produção de Miró foi parar nas mãos de Wellington de Melo, que se interessou em publicá-la pelo selo Mariposa Cartonera. Depois de um enxugamento que condiz com o trabalho realizado pela editora, chegou ao número de 30 poemas. Alguns dias após algumas conversas sobre a publicação do livro, Miró localiza mais três poemas que casavam perfeitamente com a abordagem do livro, chegando, então, ao emblemático número de 33 poemas. “É a idade que, dizem, Jesus tinha ao morrer”, chama a atenção. Num trabalho realizado, segundo ele, a “dois olhos e quatro mãos”, sob o olhar atento de Wellington (fato que ele cita, recorrentemente, em sua fala), aDeus ganhou forma e, agora, existência.
aDeus é o canto de libertação e de expurgo de Miró de uma fase que ele prefere deixar pra trás. “Nesse delírio em que surgiu o nome, eu percebi que, na verdade, era o ADEUS que eu estava dando a esse Miró de antes”, conta ele. No livro, a presença de Deus é uma constante. O nome aparece em quase todas as páginas. Mas não o Deus constituído e erigido pelo pensamento cristão. E sim um Deus existencial, que gera dúvidas, incertezas, solavancos de questionamentos. Um Deus que está presente nos mais minúsculos detalhes do cotidiano. Em sua linguagem, Miró coloca esse Deus num papel de um transeunte qualquer, mas com trânsito privilegiado nas observações mais prosaicas do que nos acontece diariamente, até mesmo nas situações que são farta matéria-prima para as tradicionais crônicas urbanas pelas quais Miró é conhecido.
Editado pela Mariposa Cartonera, aDeus sai com uma tiragem inicial de 150 exemplares, que serão vendidos no lançamento. São livros artesanais, com capas de papelão, pintadas a mão. Cada um tem uma cara diferente, particular. O projeto gráfico é da designer Patrícia Cruz Lima. Cada um dos 150 exemplares terá a assinatura de Miró, que, de próprio punho, registrou seu emblema, sua marca. Marca que está presente tanto em seu texto quanto no seu jeito, já conhecido, de dizer poemas. Renascido o poeta, o cronista irreverente ganha companhia na sua arma mais poderosa, o verso. “Era Deus correndo atrás de mim, e eu correndo dele. Agora, eu corro junto com Deus!”
SERVIÇO
Lançamento de aDeus, novo livro de Miró
Quinta (6), às 19h
Bar Teatro Mamulengo | Rua da Guia, 207, Praça do Arsenal, Bairro do Recife – Recife/PE
Acesso gratuito
