Mepe recebe lançamento do primeiro romance de Fábio Andrade no dia 10
Coisas Distantes, livro da Cepe Editora, é um relato sobre o desafio de continuar vivendo depois de traumas
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Um jornalista de luto pela morte da companheira vai a uma ilha perdida no Atlântico para fazer uma reportagem sobre aparições de discos voadores. Lá, ele enfrenta o desafio de viver acuado por uma ausência permanente, traumática e repentina. É a partir desse enredo que o escritor conduz seu primeiro romance, Coisas Distantes, da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe). O livro será lançado em 10 de setembro (quarta-feira), às 19h, no Museu do Estado de Pernambuco, localizado nas Graças, bairro da Zona Norte do Recife, e em 16 de setembro (terça-feira), na Livraria Ponta de Lança, em São Paulo, às 19h.
Nas 172 páginas de Coisas Distantes o leitor acompanha o jornalista numa ilha sem nome, de pouco mais de nove quilômetros quadrados, na costa do Espírito Santo. No local, onde funciona uma base militar, há relatos frequentes de desaparecimentos de pessoas e fenômenos inexplicáveis, como luzes e estranhos objetos avistados por marinheiros e visitantes. O protagonista, sem nome em quase todo o livro, só é apresentado como Adriano quando não está mais presente na história.
“Há um sentido na ausência dos nomes dele e da ilha na maior parte do livro. É como se eles estivessem sintonizados, e se fundissem, gradativamente. Os nomes, na ficção, nunca são gratuitos. Além dos significados que podem evocar, eles definem, fixam. Adriano é um ser em trânsito, na passagem para algo que desconhece e que, ao mesmo tempo, o atrai. Como a ilha, ele é um lugar de passagem. Apenas quando desaparece, seu nome aparece. Sugerindo assim que só se pode falar da vida de alguém, dizer quem foi ele, quando não está mais entre os seus”, declara Fábio Andrade.
Enquanto investiga os acontecimentos misteriosos na ilha, Adriano se envolve com Olívia, universitária que realiza trabalho de mestrado sobre isolamento em regiões distantes. Mas não consegue esquecer Eduarda, com quem tinha construído uma relação sólida. “Toda a minha mente está ocupada por Duda, por sua ausência”, ressalta. Num caderno, ele descreve seu luto, a depressão e as crises de ansiedade. “Meus dias são reféns de uma matemática enlouquecedora. Calculando horas, minutos, decisões, faltas, ausências; buscando de maneira absurda um caminho paralelo, um desvio no tempo irreversível, como se pudesse alterar o que aconteceu”, pontua o jornalista em suas anotações.
“O protagonista está aclimatado à nossa época. Sofre das mazelas que um tempo pós pandêmico oferece aos sobreviventes. Eu mesmo fui vítima da forma grave da covid 19, com complicações que poderiam ter me matado. A morte de Eduarda, a companheira do protagonista, passou a ser por covid numa das últimas versões do romance, versão concluída enquanto eu mesmo me recuperava em casa, fazendo fisioterapia pulmonar e tendo que lidar com os efeitos da chamada ‘covid longa’”, afirma Fábio Andrade.
De acordo com o escritor, um texto literário espelha direta ou indiretamente a sua época. “A ficção tem essa capacidade de testemunhar um momento sem abandonar sua potência imaginativa, inventiva. Em todo personagem colocamos muito de nós, misturando, porém, com a vida de tantos outros, conhecidos ou inventados. Como dizia Milan Kundera, nossos personagens são versões de nós que não foram vividas. Eu sou esse indivíduo, obrigado a viajar, sofrendo de uma imaginação indomesticável, e seduzido pelas distâncias das coisas grandiosas.”
“Já com uma sólida trajetória nos ensaios e na poesia, Fábio Andrade faz sua estreia nos romances com uma narrativa que propõe deslocamentos para o leitor: o principal, mas não o único, é o da viagem do seu personagem principal para uma ilha brasileira pouco conhecida. Por meio dos diários de Adriano, o leitor de alguma forma vai penetrando em um ritmo singular, que é calmo e espesso em suas reflexões e observações – a trama externa, com desaparecimentos e segredos, se une a uma investigação interior densa. Assim, em Coisas Distantes, Fábio transforma a sua prosa, de forma sutil e hábil, em um atributo desse deslocamento interno e externo do seu protagonista”, destaca o editor da Cepe, Diogo Guedes.
Sobre o autor – Fábio Andrade, recifense, é professor de literatura brasileira e portuguesa. Pela Cepe Editora, publicou a coletânea O fauno nos trópicos: um panorama da poesia decadente e simbolista em Pernambuco (2014). É autor dos livros de poesia Luminar presença & outros poemas (2005) e A transparência do tempo (2009), vencedor do Prêmio Literário Cidade do Recife na categoria Poesia.

