Biografia de Miró da Muribeca é lançada pela Cepe Editora
O lançamento no Recife será no bar do Teatro Mamulengo, na Praça do Arsenal, às 19h
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Ele nasceu João Flávio Cordeiro da Silva, em 6 de agosto de 1960, no Recife. Nas ruas desta cidade, virou poeta performático. Preto, pobre e vítima de racismo, saiu da periferia da capital de Pernambuco e rodou o País com a sua arte. Quando morreu, em 31 de julho de 2022, era Miró da Muribeca, uma referência na poesia urbana brasileira. A trajetória percorrida pelo poeta, em seus 61 anos de vida, é revelada em detalhes na biografia que a Companhia Editora de Pernambuco lança nesta quinta-feira (23), no Recife. Em novembro, haverá apresentação na cidade de Petrolina, no Sertão do Estado, onde ele morou por um tempo.
O lançamento no Recife será no bar do Teatro Mamulengo, na Praça do Arsenal, às 19h. Estou Quase Pronto: uma biografia de Miró da Muribeca, do escritor Wellington de Melo, explora a infância, a vida pessoal, as viagens, os encontros poéticos, os problemas com o alcoolismo e o reconhecimento nacional do homem que traduziu em poemas o cotidiano das ruas. Na biografia, “Miró é apresentado com todos os seus defeitos, com todas as suas virtudes, e isso é uma coisa interessante porque humaniza a figura biografada”, declara Wellington de Melo. Romancista, editor e amigo do poeta, ele acompanhou a luta de Miró contra o câncer nos dois últimos anos de vida.
O fato de ser amigo, diz ele, tanto ajudou quanto dificultou na hora de escrever a biografia, que traz informações inéditas para os admiradores da poesia de Miró. “Ajudou porque eu pude ter acesso direto ao processo de enfrentamento da doença e a questões muito íntimas que Miró não tinha revelado até então. Ele teve essa abertura para falar coisas de maneira franca, coisas que muitas pessoas que conviveram com ele talvez não saibam e, comigo, ele pôde revelar”, destaca Wellington de Melo.
A parte difícil era definir quais informações poderiam ser publicadas. “Eu precisava tomar decisões sobre o que revelar e o que não revelar, que eu acho que para um biógrafo são coisas mais objetivas, mas o fato subjetivo de ser amigo me colocava numa situação delicada, então isso em alguns momentos dificultou. Não acho que o fato de ser amigo influenciou no sentido de ser uma biografia chapa branca”, afirma. O livro tem 392 páginas, com fotos raras de Miró em diferentes períodos da vida.
Além das fotos pouco conhecidas, entre o material inédito da biografia há cartas de namoradas do poeta na década de 1980. “Essas cartas foram esclarecedoras de vários aspectos tanto da personalidade dele como para bater e confirmar algumas dúvidas com relação a datas”, relata Wellington de Melo. “Fora isso, tem muitas coisas que aconteceram no período da internação dele que o grande público não sabe e terá acesso a partir da leitura da biografia, e também grandes presepadas de Miró que só são conhecidas, às vezes, por grupos diferentes, nas cidades onde ele viveu”.
A capacidade de Miró de cativar pessoas está expressa na biografia. “Ele sempre conseguiu ter redes de apoio que fizeram com que ele pudesse, de alguma forma, trabalhar com sua arte, viver a sua arte de maneira mais plena”, diz o escritor. “Isso seria impossível sem várias pessoas que, ao longo da vida dele, o cercaram, isso não quer dizer que foram sempre as mesmas, havia ciclos porque a convivência com Miró, o jeito dele de ser, tanto alegra como fere também, então em alguns momentos as pessoas precisavam ser curadas dessa presença que às vezes era muito intensa.” Fazem parte da extensa rede as poetas Cida Pedrosa e Maria do Carmo Barreto Campello de Melo (1924-2008), o artista plástico Maurício Silva e o médico e escritor Wilson Freire.
Wellington de Melo colheu dezenas de depoimentos de amigos de diversas fases da vida, pessoas do convívio e gente que entrava em contato para contribuir com relatos para a biografia. O livro traz explicações sobre a origem do apelido “Miró”, ligadas às habilidades de João Flávio com a bola em jogos de futebol, as agressões sofridas por ser negro, a vida em Muribeca, bairro da periferia do município de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, a descoberta da poesia, as primeiras publicações, as primeiras performances, os incentivos que recebeu para ser poeta, a relação com a mãe, o filho com quem ele não conviveu, os vacilos que cometeu por causa do alcoolismo.
“Miró é um poeta fundamental para a Cepe Editora, para Pernambuco e para o Brasil. Estou Quase Pronto percorre – como no trajeto de um ônibus – as muitas vidas que ele viveu dentro da sua própria vida: a infância, a Muribeca, o futebol, a descoberta da poesia, o encontro com a performance e o recital, os deslocamentos pelo país, os relacionamentos, os problemas com a bebida, a capacidade infinita de criar amizades e laços, a pandemia e os segredos. Antes de tudo, o livro é um testemunho da sua força estética e do seu alegrismo, elementos que o tornaram um dos nossos principais poetas nacionais. Em uma narrativa envolvente desde o primeiro capítulo, Wellington reconstrói as paradas, retornos e embarques da vida de Miró”, destaca o editor da Cepe, Diogo Guedes.
Sobre o autor – Wellington de Melo é escritor, editor e autor dos romances Emilio (Cepe Editora), Estrangeiro no Labirinto (Confraria do Vento) e Felicidade (Patuá) e do poema O Caçador de Mariposas (Mariposa Cartonera). É tradutor do poeta Miguel Hernández no Brasil e editou o livro de poemas Solo para Vialejo (Cida Pedrosa/Cepe Editora), vencedor do Livro do Ano do Prêmio Jabuti de 2020.
Entrevista com o autor
Pergunta – Estou Quase Pronto: uma biografia de Miró da Muribeca é a primeira biografia que você escreveu?
Wellington de Melo – Estou Quase Pronto é a primeira biografia que eu escrevo, mas a parte curiosa é que eu tive experiência com edição de biografias porque eu editei algumas biografias pela Cepe Editora, isso me ajudou a decidir o que é que eu queria e o que é que eu não queria enquanto biógrafo.
Pergunta – Quanto tempo você levou para fazer o livro?
Wellington de Melo – O livro começou a ser escrito mais ou menos em 2020, no período em que Miró foi diagnosticado com câncer. Pouco antes eu tinha recebido o convite, então na época mesmo comecei o processo de entrevistas com ele, entrevistas também com outras pessoas e consultas a outras fontes, e o livro levou cinco anos para ser finalizado, porque, claro, depois do falecimento de Miró a pesquisa continuou, o processo de escrita também continuou e outros fatos foram sendo revelados até a versão final.
Pergunta – Como você avalia o resultado da biografia?
Wellington de Melo – Eu acho que o livro consegue cobrir muito da vida de Miró, vários períodos da vida de Miró, tive acesso a muitas pessoas que conviveram com ele e naturalmente sempre pode ter tido mais coisas, mais gente, são muitas histórias. Quando eu estava no período de finalização do livro, às vezes acontecia de uma pessoa chegar com uma história nova e eu incluir. Muita gente vai ler o livro e vai dizer: ahhh… mas poxa, mas podia ter tido aquela história…
Pergunta – Ficou como você queria?
Wellington de Melo – Eu espero que essa primeira edição esgote totalmente e de repente a gente até possa incluir outras histórias. De alguma forma eu tive de abandonar a escrita, dizer: não, vamos parar por aqui. Porque é uma coisa que eu deixo claro, esse é um livro que fica em aberto, eu acho que quem ler vai ter essa sensação de que a vida de Miró continua para além da passagem dele na Terra, a obra dele continua e isso é que é bonito no livro, eu acho que fica essa mensagem, que é um livro que continuará, imagino que a cada edição que a gente faz, ou reedição ou reimpressão, vão surgir coisas novas.
Serviço
O que: Lançamento de Estou Quase Pronto: uma biografia de Miró da Muribeca
Recife
23/10 (quinta-feira), às 19h
Bar do Teatro Mamulengo, Rua da Guia, 211, Bairro do Recife, Centro do Recife. A programação inclui sarau em homenagem ao artista e discotecagem produzida a partir da poesia de Miró.
Petrolina
08/11 (sábado), às 17h
Espaço Cultural Janela 353, Rua Antônio Santana Filho, 353, Petrolina. Haverá bate-papo com o autor, apresentação do curta Miró: Preto, Pobre, Poeta e Periférico (Wilson Freire) e exibição de trecho da última entrevista concedida pelo poeta.
Preço: R$ 70 (impresso)
