Pernambuco despede-se de Tereza Costa Rego neste domingo (26)
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Costa Neto/Secult-PE/Fundarpe

Tereza Costa Rego na sacada de sua casa-ateliê, em Olinda, cidade que escolheu viver e amar
Pernambuco perde uma de suas artistas plásticas mais respeitadas e admiradas: Tereza Costa Rego, que faleceu neste domingo (26), aos 91 anos, vítima de um acidente vascular cerebral (AVC). Amante confessa da folia e das procissões olindenses, Tereza era um ícone da pintura pernambucana. Seus quadros, cheios de referências da cultura popular, foram expostos/aclamados em diversas cidades do Brasil e do mundo, como São Paulo, Rio de Janeiro, Lisboa, Paris e Havana, e revelam um valioso patrimônio do nosso povo.
Recifense de origem, a pintora ainda criança encontrou, nas telas e nos pincéis, uma maneira de expressar seus sentimentos. Aos 15 anos, ingressou na Escola de Belas Artes e, lá, seu ofício começou a ganhar contornos mais espessos, tendo faturado três prêmios do Museu do Estado de Pernambuco e outro da Sociedade de Arte Moderna. Em 1962, realizou a primeira grande exposição, na Editora Nacional. Neste mesmo ano, Tereza conheceu o grande amor de sua vida: Diógenes Arruda. Dirigente do Partido Comunista, Arruda teve que fugir com a artista para São Paulo, onde, por motivos políticos, viveram na clandestinidade até 1969, quando ele foi preso. Ela aproveitou o tempo fora do Recife para se dedicar à arte e aos estudos, e se formou em história na Universidade de São Paulo (USP).
Em 1972, seu companheiro foi libertado, e os dois seguiram juntos para o exílio no Chile, mas, a derrubada de Salvador Allende e a ditadura militar de Pinochet, forçaram a uma nova fuga, desta vez para a França. Afastada das filhas, fruto de um casamento de 14 anos, e dos irmãos, a artista abandonou um pouco a própria vida para ser a mulher do líder comunista. Porém, não deixou de pintar em momento algum e, inclusive, expôs seus quadros em Paris, assinando com o nome de Joanna.
De volta à sua pátria, e, após a perda de Diógenes, que não resistiu à chegada ao Brasil e morreu de ataque cardíaco, Tereza fixou residência em Olinda, no ano de 1979. Desde então, viveu e pintou na mesma casa, que era uma espécie de toca-ateliê, localizado na Rua do Amparo. “Desde que voltei do exílio, em 79, o Brasil, para mim, é Olinda. E Olinda, para mim, é a Rua do Amparo, que é de onde vejo, da janela da minha casa, as procissões, na Semana Santa, e o meu namorado, o Homem da Meia-Noite, no Carnaval. Como adoro pintar temas carnavalescos e religiosos, é daqui que extraio a matéria-prima dos meus quadros”, revelou ao Portal Cultura.PE, em 2015, quando foi uma das entrevistadas da série Meu Lugar na Cidade, em comemoração aos aniversário de Olinda e Recife.
Jan Ribeiro/Secult-PE/Fundarpe

Tereza Costa Rego, Paulo Câmara e Leda Alves durante a vernissage do seu painel “Mulheres de Tejucupapo”, que ficou exposto em 2017, na Torre Malakoff
Sobre a sua partida neste domingo (26), o governador do Estado de Pernambuco, Paulo Câmara disse: “O cenário artístico e cultural de Pernambuco ficou menor com a morte de Tereza Costa Rêgo. É impossível dimensionar em palavras a importância da sua obra para o nosso Estado e para o Brasil. Paisagista, doutora em história, militante de esquerda, Tereza era, acima de tudo, uma artista plástica de corpo e alma, que traduzia com beleza e perfeição seus sentimentos nas telas, retratando ali o imaginário popular, nossas lutas libertárias, a força da mulher, paisagens de Olinda e Recife e tantas outras figuras da nossa cultura. Tereza, certa vez, afirmou que “pintaria até não poder mais”, e assim o fez. Sua partida fará uma imensa falta à arte brasileira. Quero me solidarizar com todos os seus familiares, amigos e admiradores neste momento de profundo pesar”.
“A partida de nossa Tereza Costa Rego deixa um vazio incalculável. Sua presença e seu trabalho marcaram um período histórico no Estado e no País, não apenas pela beleza estética das telas que pintou mas no discurso político que suas obras sempre carregavam. Mulher que domou o tempo, viveu mais de 90 anos em plena atividade. Atuante no enfrentamento à opressão e na luta por direitos sociais, foi uma militante de destaque e usou seu talento artístico para imprimir mudanças profundas por onde passou. Seu amor à vida e a liberdade deverão permanecer como ideais a serem seguidos pelas futuras gerações. Uma perda difícil de ser superada. Minhas sinceras condolências aos familiares e aos amigos mais próximos”, comentou mais cedo o secretário de Cultura de Pernambuco, Gilberto Freyre Neto.
Já o presidente da Fundarpe, Marcelo Canuto, declarou: “Tereza Costa Rego vai viver eternamente na memória de todos que a conheceram. Não só pelo conjunto de sua obra, política por essência, mas também pelo exemplo de mulher que foi: bem posicionada em relação ao seu tempo, generosa, militante, apaixonada, intensa. Na Fundarpe, antes de começar a pandemia, estávamos planejando uma exposição dela para o primeiro semestre desse ano. Na época, a visitamos, e depois conversamos em várias oportunidades. Pudemos aproveitar de sua vivacidade e amor pela vida. Pernambuco e o mundo perdem uma das maiores pintoras do século 20. Ficamos com seu exemplo e sua obra, que eternizam o nome de Tereza por esta e pelas próximas gerações”.