Encontro de pifeiros reviveu tradição no Alto do Moura
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Por Chico Ludermir
Aos pares, os integrantes das bandas de pífano foram entrando na Igreja de São Sebastião, no Alto do Moura, e fazendo o som agudo dos pífanos ressoar de forma harmônica por toda a parte. Dois a dois, os 20 tocadores fizeram a “venha”, quando tocam e se ajoelham diante do altar, em reverência. Nos bancos da igreja, beatas antigas relembraram o tempo em que as novenas faziam parte da rotina. A tradição, atualmente, já não é forte, mas foi revivida no início da noite desta quinta-feira (17/5), em Caruaru, como parte da programação do Festival Pernambuco Nação Cultural na cidade.
Maria Ernestina reza o terço para Maria durante todos os 31 dias do mês de maio desde que era menina. Hoje, aos 70 anos, se alegrou ao escutar de novo os pifeiros dentro da casa de Deus. “A gente ficou muito feliz e se lembrou dos tempos de antigamente. As novenas eram frequentes e animadas, tinha prenda…”, conta. As prendas, de que ele fala, eram como leilões de comida, que animavam a festa depois do terço rezado.
Quando chegaram à igreja, as quatro bandas de pífano já vinham em cortejo pelas ruas, trazendo junto um punhado de crianças. Banda de Pífano Zé do Estado, Flor de Taquary, Alvorada e Princesa do Agreste. Cada uma com seus pífanos, pratos, zabumbas, caixas e contra surdos. Cada uma com sua história.
Seu José Gago conta que o nome da sua banda veio por causa do seu pai, que também se chamava José. Além de sanfoneiro de oito baixos, Zé (pai) era funcionário público, do Estado. Hoje a banda é formada por ele, quatro irmãos e um agregado, amigo de infância. “Antigamente a gente tocava muita novena. De São Sebastião, de São José, Santo Antônio, São Benedito e, no mês de maio, para Santa Maria”, lembra. Hoje tocam baião, xote, xaxado, frevo, samba e até rock.
Há quase 50 anos junta, a família se define como “simples” e “sem frescura”. “Somos pedreiros e pintores, mas temos a música como paixão. Gostamos demais”, diz Zé Gago, destacando no currículo da banda um show no Central Park, em Nova Iorque, ao lado de Chico Science.
Tocador de pífano desde 1960, Biu do Pífano diz que cumpriu um pedido que sua mãe fez depois de morta. “Ela se foi quando eu tinha 11 anos e veio numa elevação dizer que tudo que eu ia ter na vida ia ser com o pífano. E ela tava certa”, conta. Seu pai, que era tocador e fabricante de pífano, não queria que ele seguisse o seus passos, mas Biu seguiu os conselhos da mãe e hoje comanda a banda Princesa do Agreste.
Embaixo de um coreto, as bandas se apresentaram também individualmente, bem na frente da casa Dona Ivanilda Amara do Santos, que assistiu a tudo de sua cadeira posta na frente de casa. “Meu pai fazia a novena que saía daqui. Gostei demais de poder ver isso de novo”.

