Pular a navegação e ir direto para o conteúdo

O que você procura?
Newsletter

Notícias cultura.pe

Livro da Cepe mostra o múltiplo talento do artista plástico Petronio Cunha

A obra aborda o trabalho e a vida do artista criador da identidade visual de Olinda como cidade Patrimônio da Humanidade

Foto: Leopoldo Conrado Nunes/Cepe

Foto: Leopoldo Conrado Nunes/Cepe

Petronio Cunha

Ao analisar as artes e os ofícios de Petronio Cunha, 84 anos, o arquiteto e pintor Luciano Pinheiro afirma que a obra deste artista gráfico e plástico “tem na diversidade a sua magia”. Petronio é múltiplo ao se tratar das técnicas utilizadas e do processo criativo. De ferramentas nas mãos, do estilete ao pincel, este paraibano de Campina Grande, filho adotivo e radicado em Olinda há 27 anos, dá forma a recortes em papel, gravuras, escrituras, desenhos, cartazes e azulejos. A síntese da sua capacidade inventiva está no livro Recorte gráfico – Petronio Cunha, a ser lançado pela Cepe Editora no dia 31 de outubro (sexta-feira), no Mercado Eufrásio Barbosa, em Olinda. O título tem a coordenação editorial de Júlio Cavani, a curadoria de Antônio Paes e a idealização e diagramação de Germana Freire. No lançamento, haverá a exposição Gráfica pernambucana – Um episódio, com 16 telas de Petronio.

“É só por meio de uma visão panorâmica como a oferecida por Recorte gráfico que é possível entender melhor a importância dessa figura indispensável para a arte brasileira e nordestina”, afirma o editor da Cepe, Diogo Guedes. A obra de 300 páginas reúne mais de 400 imagens e sete textos. A maioria das imagens reproduz peças do artista e, segundo o editor, “dimensiona o seu trabalho na arte e no design e apresenta o esmero e a complexidade dos seus traços, escrituras, gravuras, recortes, azulejos e cartazes”. Entre os textos estão artigos sobre a sua produção gráfica do artista e a sua história na arte da azulejaria.

No artigo que assina, a pesquisadora e professora do Departamento de Design da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Isabella Ribeiro Aragão defende que Petronio, além de arquiteto e artista gráfico, merece ser lembrado como letrista e designer gráfico. “Seu trabalho tem um valor primordial para a área tipográfica pelos processos manuais que geraram diversas formas de letras”, diz. Ela define Petronio como um letrista muito habilidoso, característica proveniente “da experimentação de diferentes meios para formalizar uma gama de conteúdos e, em especial, a criação de desenhos de letras”. Apesar disso, Isabella argumenta que o artista não deve ser definido como tipógrafo.

A faceta do artista na arte dos azulejos é analisada por Luiz Amorim, arquiteto e urbanista, no texto Alumbrar, verbo transitivo mais-que-direto. Para este, a produção de Petronio em tal campo é tão expressiva e investigativa quanto o que caracteriza o conjunto da sua obra, embora se distingua das demais produções artísticas por sua condição de arte urbana e plena associação com a arquitetura e a cidade. “Ela se faz interior e exterior, arquitetônica e urbana; imbricada a superfícies e volumes de bordas definidas, mas também de bordas livres ou em fragmentos”, detalha. Amorim assegura que o azulejar de Petronio é diverso em dimensão, geometria, suporte, tipo e expressão artística, e, acima de tudo, fonte de alumbramento. Exemplo disso são os azulejos da Catedral Anglicana do Bom Samaritano, em Boa Viagem, no Recife.

Criações de Petronio Cunha ganharam ruas e galerias de arte, contudo o historiador e arqueólogo Plínio Victor mostra ser o ateliê do artista o lugar de guarda de tesouros, uma caverna. Este lugar de Olinda, na concepção de Plínio, seria a Caverna do Varadouro, comparando-a a furnas arqueológicas famosas, como as do Seridó (RN) e de Chouvet (França). “Por toda parte nas paredes da caverna há muitos recados de festas da cidade, pois essa caverna tem a agitação agoniada, neurastênica, de um tempo e de uma aldeia diferente das outras, mas, e ainda assim, é uma caverna como as outras”, descreve. E por que iguais? O historiador alega que a Caverna do Varadouro, tal qual as cavernas potiguar e francesa, foi grafada, riscada, pintada para além do seu lugar físico.

Júlio Cavani conta que a proposta do livro surgiu de uma parceria entre a Cepe e o Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco ((MAC-PE), localizado em Olinda. “Petronio foi o artista que criou a marca do MAC, mas ainda não havia sido produzida uma publicação que transmitisse a grandiosidade de sua obra”, afirmou, enfatizando que o artista e designer tem importância local e nacional. Ainda, segundo Cavani, o trabalho de Petronio é ainda importante para a identidade cultural de Olinda enquanto cidade Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, título declarado pela Unesco, em 1982.
Sobre o artista
Nascido em Campina Grande (PB), em 1941, Petronio dos Santos Cunha estudou Arquitetura na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), de 1964 a 1968. Após o término do curso, em 1969, mudou-se para Brasília (DF) com o objetivo de se aprofundar na Comunicação Visual e depois, ainda no mesmo ano, para São Paulo (SP), onde se dedicou à área gráfica. Foi em São Paulo que começou a desenhar artisticamente. O passo seguinte foi Paris (França), cidade em que residiu de 1971 a 1973, quando retornou a São Paulo e descobriu a arte do recorte em papel, que se assemelha à técnica da xilogravura. Petronio mora desde 1978 em Olinda, para a qual criou, ao trabalhar na prefeitura, a identidade visual de cidade patrimônio e que ainda é referência. Ao longo da carreira, o artista participou de várias exposições coletivas e realizou exposições individuais, sendo a última destas em 2019, em Olinda. Em 1996, ganhou o CorelDraw International Design Contest, concurso promovido pela empresa canadense de softwares.

< voltar para Literatura