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Secos e Turvos: uma poesia do Sertão em livro lançado no Mepe

Novo livro de poemas da Cepe tem autoria do escritor e dramaturgo olindense Alexsandro Souto Maior

Leopoldo Conrado Nunes/Cepe Editora

Leopoldo Conrado Nunes/Cepe Editora

O escritor e dramaturgo Alexsandro Souto Maior

A Guerra de Canudos, conflito armado entre uma comunidade religiosa e o Exército Brasileiro, e o missionário Antônio Conselheiro, líder do movimento popular que terminou com milhares de sertanejos mortos, inspiraram o novo livro de poemas da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe). Secos e Turvos, obra do escritor e dramaturgo olindense Alexsandro Souto Maior, é lançado neste domingo (1º), das 15h às 17h, no Museu do Estado de Pernambuco (Mepe), no bairro das Graças, na Zona Norte do Recife.

Os poemas de Secos e Turvos ecoam a paisagem seca do Sertão, a luta entre o homem e a terra árida, a esperança que caminha lado a lado com os sertanejos. Um exemplo é esse trecho do verso de abertura do livro, Imagem Primeira: “Se lançarmos/ o nosso olhar para os confins/ há sertões/ veredas estreitas/ um povoado ali/ outro acolá/ desolados/ enrugados/ cabecentes para cima/ à espera/ de algum mísero milagre/ ou mesmo uma rima/ tudo isso demora/ mas chega, chega”.

Com 112 páginas e dividido em cinco capítulos, Secos e Turvos traduz de forma lírica a luta do beato e da comunidade de Canudos contra a fome e a seca nordestina. A guerra ocorreu no interior da Bahia, de 1896 a 1897, no fim do século 19, na transição do regime monárquico para a República no Brasil. De acordo com Alexsandro Souto Maior, o conjunto de poemas que compõem o livro se conectam com Os Sertões (1902), o mais famoso relato da Guerra de Canudos, de autoria de Euclides da Cunha.

Secos e Turvos faz esse diálogo. Agora minha referência não foi só Os Sertões, mas também Antônio Conselheiro. Apesar de buscar uma feitura de alegorias, de trazer a visão da imprensa do Rio de Janeiro naquela época, a maior referência é o documento científico, jornalístico, literário de Euclides da Cunha. Em tempo de embate de revisões históricas, a literatura também pode ser um espaço para não esquecer desse absurdo glorioso, desse genocídio promovido por um Brasil oficial, republicano”, declara o autor e mestre em estudos literários.

A organização dos versos em contornos e ziguezagues nas páginas do livro dialoga com a temática dos textos. “Hoje vejo a poesia para além dos versos comportados. Muitas vezes não enxergo o verso e nasce outra possibilidade de falar com os vazios da página. Em Secos e Turvos, senti muito a necessidade de usar a quebra da palavra, a quebra do verso como aliados nessa construção fragmentada, destroçada de um povo. Ora vejo as palavras duras como pedras ali distribuídas, ora vejo o rio da nossa história correr sofregamente”, comenta.

“Voltar aos grandes fatos históricos, muito estudados e debatidos, sempre requer um exercício de olhar criterioso. Secos e Turvos percorre paisagens e retoma personagens caros à literatura brasileira, mas o faz sob uma perspectiva lírica e visual particular, fruto de anos de pesquisa do seu autor. No processo editorial tentamos buscar formas de traduzir a atmosfera do livro também nas decisões gráficas, investindo em um acabamento mais poroso para a capa, que remete ao seco, à aridez”, observa a editora assistente da Cepe, Gianni Gianni.

O AUTOR - Alexsandro Souto Maior é professor, graduado em letras, especializado em literatura brasileira e mestre em estudos literários. Publicou seus primeiros poemas na década de 1990 nos jornais O Pão e Diário do Nordeste, do Ceará, e é autor de A Seiva (2019), livro de poesias que recebeu menção honrosa pela Academia Pernambucana de Letras (APL). É também ator e diretor de teatro. Como dramaturgo venceu o Prêmio Literário Cidade de Manaus com a peça Mariano, Irmão Meu (2011), e o Prêmio Ariano Suassuna, com as obras Tempo de Flor (2018) e O Misterioso Casarão de Dona Niná (2020), entre outros.

Trecho do livro

“A cancela do Sertão
abre-se sobre um socalco
rochoso
admiravelmente
árido,
opaco
e vário
Ao longe
uma cortina de poeira
avermelha
o dia”

Trecho do livro

“a luz crua
violenta as pedras
e todos são pedras
fortemente
uma boca plena de saliva
contrasta com uma língua seca
como uma lâmina áspera
pronta para sucumbir os fraturados
os enjeitados, os fracos
Mas os sertanejos
são, sobretudo, pedras
O céu está longe!”

Serviço:

Lançamento do livro Secos e Turvos e bate-papo do autor Alexsandro Souto Maior com o poeta e crítico literário Peron Rios - domingo (1º), das 15h às 17h, no Museu do Estado de Pernambuco (Avenida Rui Barbosa, nº 960, bairro das Graças). Preço do livro impresso: R$ 45

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