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Cepe edita livro sobre a importância do bairro de São José

O bairro de São José, no Centro do Recife, ocupa uma área de 3,26 quilômetros quadrados e era habitado por 8.688 pessoas em 2010, de acordo com o último censo do IBGE. Mas números dizem pouco sobre um dos bairros mais antigos da cidade, com memórias preservadas em cada beco e esquina. É sobre esse lugar, reduto histórico, cultural e afetivo da capital pernambucana, o próximo lançamento da Cepe Editora, às 14h desta terça-feira (21), durante o 5º Seminário Urbanismo e Patrimônio Cultural organizado pelo Laboratório de Urbanismo e Patrimônio da Universidade Federal de Pernambuco (LUP-UFPE), pela plataforma Zoom.

“São José: Olhares e Vozes em Confronto – Um Bairro Patrimônio Cultural do Recife” reúne oito artigos de arquitetas e urbanistas que pesquisaram esse trecho da cidade nos mínimos detalhes e podem afirmar que, sim, São José tem vida própria. “Ele não é dependente do bairro de Santo Antônio”, diz Renata Cabral. “São José é único, é uma unidade cultural material e imaterial”, destaca Virgínia Pontual. Elas são pesquisadoras do LUP-UFPE e organizadoras do livro, juntamente com Juliana Melo Pereira e Flaviana Lira.

Nas 264 páginas da publicação, que será lançada virtualmente no primeiro dia de atividades do 5º Seminário Urbanismo e Patrimônio Cultural, as autoras desconstroem a imagem de São José como um lugar descaracterizado. “O discurso da descaracterização serve para legitimar um potencial de destruição no bairro”, afirma a arquiteta e urbanista Virgínia Pontual, professora do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano da UFPE.

O artigo “São José em três panoramas: F. Hagedorn (C.1855), A. Ducasble (1889) e J. Rodrigues (2014)” transmite essa leitura com uma análise do bairro a partir de duas gravuras e uma fotografia feitas do mesmo ponto – a torre da Igreja do Divino Espírito Santo, na Praça Dezessete, em Santo Antônio. Ao comparar as duas imagens do século 19 e a foto do século 21, as arquitetas Maria de Fátima de Mello Barreto Campello e Isabela Duarte Dutra, pesquisadora e colaboradora do LUP-UFPE, respectivamente, constatam que o bairro, visto de cima, tem mais “permanência” do que descaracterização.

Segundo elas, São José é descaracterizado quando observado no nível das fachadas do casario, porém, apesar das transformações na paisagem, mantém muita integridade. Como exemplo, Maria de Fátima e Isabela citam o trecho em volta da Igreja de Nossa Senhora do Livramento e da Basílica da Penha, no qual é possível reconhecer o ontem e o hoje, mesmo com as mudanças. “A escala acolhedora do bairro permanece, cortado pela verticalidade das torres das igrejas”, relatam.

Virgínia Pontual, no artigo “Fragmentos de representações sobre a formação urbana do Recife e do bairro de São José do século 16 ao 21″, informa que a predominância de casas térreas é um sinal de que o lugar era habitado por classes sociais distintas e não apenas por pessoas menos abastadas, como sempre se divulga. No século 19, diz ela, “São José era um bairro com mesclagem urbanística, arquitetônica e social”, mesmo que lotes e ruas fossem mais estreitos do que os de Santo Antônio.

A professora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro Cêça Guimaraens escreveu sobre o bairro tendo como ponto de partida imagens do fotógrafo e intelectual pernambucano Benício Dias (1914-1976), que documentou as transformações no centro histórico do Recife da década de 1930 até os anos 1970. Ele deixou registros de becos, como o do Marroquim, de figuras que frequentavam o Mercado de São José, como o mascate Cariri (que deu origem a uma troça de Carnaval em Olinda), de anônimos e de paisagens que contam a história de São José. A Cepe lançou em 2015 o livro “Benício Dias – Fotografias”, com parte desse acervo.

Berço de agremiações carnavalescas (Batutas de São José, Galo da Madrugada), de procissões religiosas (Nossa Senhora da Penha, Santa Rita) e de edificações simbólicas para a cidade (Mercado de São José e igrejas seculares), São José é famoso pelo comércio popular. “O bairro ainda mantém um comércio muito pulsante, as ruas estão sempre cheias”, reforça a arquiteta Juliana Melo Pereira, professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPE. “É preciso entender o que as pessoas reconhecem e valorizam nesse lugar. A relação entre o que destrói e o que faz o bairro viver é muito tênue, isso vai além das modificações das fachadas”, diz Juliana.

De acordo com Virgínia Pontual e Renata Cabral, a ideia do livro surgiu por volta de 2014-2015, quando as mobilizações do movimento Ocupe Estelita para tentar impedir a derrubada de antigos armazéns no Cais José Estelita, e a posterior implantação de um empreendimento imobiliário de luxo no local, chamaram a atenção para São José. Arquitetas e urbanistas da UFPE decidiram estudar mais o bairro em transformação e as mudanças que interferiam em seu passado recente.

Serviço
Lançamento do livro “São José: Olhares e Vozes em Confronto – Um Bairro Patrimônio Cultural do Recife”, com as participações dos arquitetos José Lira (professor da FAU-USP e prefaciador do livro) e Rodrigo Farias (UnB), no 5º Seminário Urbanismo e Patrimônio Cultural (plataforma Zoom)
Quando: 21 de setembro de 2021 (terça-feira), das 14h às 16h
Preço do livro: R$ 90 (impresso) e R$ 27 (e-book)
Onde comprar: Lojas físicas e loja virtual da Cepe (www.cepe.com.br/lojacepe)

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