Débora Colker faz estreia internacional do seu novo espetáculo no Recife
Cão sem Plumas, baseado no poema homônimo de João Cabral de Melo Neto, mescla dança e audiovisual, com trilha sonora ao vivo
Postado em: Artes Cênicas
Deborah Colker faz no Recife, neste final de semana, a estreia internacional do espetáculo Cão sem Plumas. Baseado no poema homônimo de João Cabral de Melo Neto (1920-1999), este é seu primeiro espetáculo de temática explicitamente brasileira. Publicado em 1950, o poema acompanha o percurso do rio Capibaribe, que corta boa parte do estado de Pernambuco. Mostra a pobreza da população ribeirinha, o descaso das elites, a vida no mangue, de “força invencível e anônima”. A imagem do “cão sem plumas” serve para o rio e para as pessoas que vivem no seu entorno.
“O espetáculo é sobre coisas inconcebíveis, que não deveriam ser permitidas. É contra a ignorância humana. Destruir a natureza, as crianças, o que é cheio de vida”, diz Deborah. A dança se mistura com o cinema. Cenas de um filme realizado por Deborah e pelo pernambucano Cláudio Assis – diretor de longas-metragens como Amarelo Manga, Febre do Rato e Big Jato – são projetadas no fundo do palco e dialogam com os corpos dos treze bailarinos em cena. As imagens foram registradas em novembro de 2016, quando coreógrafa, o cineasta e toda a companhia viajaram durante 24 dias, indo do Recife, passando pelo Agreste e chegando até o Sertão pernambucano.
A jornada também foi documentada pelo fotógrafo Cafi, nascido em Pernambuco. Na trilha sonora original estão mais dois pernambucanos: Jorge Dü Peixe, da banda Nação Zumbi e um dos expoentes do movimento mangue beat, e Lirinha (ex-cantor do Cordel do Fogo Encantado, poeta e ator). Juntam-se ao carioca Berna Ceppas, que acompanha Deborah desde seu trabalho de estreia, Vulcão (1994). Outros antigos parceiros estão em cenografia e direção de arte (Gringo Cardia) e na iluminação (Jorginho de Carvalho). Os figurinos são de Claudia Kopke. A direção executiva é de João Elias, fundador da companhia.
Os bailarinos estão “vestidos” de lama, numa alusão às paisagens que o poema descreve, e seus passos evocam os caranguejos. O bicho que vive no mangue está nas ideias do geógrafo Josué de Castro (1908-1973), autor de Geografia da fome e Homens e caranguejos, e do cantor e compositor Chico Science (1966-1997), principal nome do manguebeat, movimento cuja estética híbrida, que se nutria de referências locais e universais, tradição e tecnologia, extrapolou a música e chegou ao cinema, à moda, e também à dança.
Para construir um bicho-homem, conceito que é base de toda a coreografia, a artista não se baseou apenas em manifestações que são fortes em Pernambuco, como maracatu e coco. Também se valeu de samba, jongo, kuduro e outras danças populares. “Minha história é uma história de misturas”, afirma ela. Seu grupo se firmou como fenômeno pop em Velox (1995), Rota (1997) e Casa (1999). Os espetáculos Nó (2005), Cruel (2008), Tatyana (2011) e Belle (2014) trataram de temas existenciais, como os afetos. Em Cão sem plumas, Deborah reúne aspectos de toda a sua carreira. “Cabem a elegância do clássico, a lama das raízes e o olhar contemporâneo. O nome disso é João Cabral”, diz ela.
SERVIÇO:
Cão Sem Plumas – Cia. de Dança Débora Colker
Sábado, 03, às 21h
Domingo, 04, às 20h
Local: Teatro Guararapes (Centro de Convenções, Recife)
Ingressos:
Plateia Setor 1: R$ 120,00 inteira / R$ 60,00 meia-entrada
Plateia Setor 2: R$ 100,00 inteira / R$ 50,00 meia-entrada
Plateia Setor 3: R$ 80,00 inteira / R$ 40,00 meia-entrada
Balcão: R$ 50,00 inteira / R$ 25,00 meia-entrada

